quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

A cultura da degradação



Em meados de 1820, inicia-se uma uma nova onda de colonização européia com novos valores e padrões tecnológicos . A partir deste momento, machados, serras (traçadores), cunhas e a força bruta escreveram um novo capítulo da história de exploração da Araucária angustifolia, o popular pinho brasileiro. Comparada às melhores madeiras oriundas do hemisfério norte, a araucária passa a revestir desde o piso da nobreza européia até o telhado das casas dos caboclos sulinos.



Na Exposição de Viena, realizada em 1873, o Brasil recebeu dois diplomas de honra: um, pelo café (plantado sobre os escombros da floresta) e, outro, dado à Companhia Florestal Paranaense, que levou entre outras amostras, um pinheiro (Araucária angustifolia), de 33 metros de altura, que foi remontado com ajuda de grandes andaimes (da mesma madeira).
O objetivo da exposição era mostrar aos europeus as vantagens desta extraordinária árvore que produzia tábuas, nós, frutos, resina e carvão.



(Fonte: Saudade do Matão, Tereza Urban).





Pátio da Serraria da South Brazilian Lumber and Colonization, 1920, Porto União-SC.


Cortes das Araucárias para exportação.


Fonte: A Mata Atlântica e você, 2002 -Fotos de Luiz Szczerbowski)

A Floresta e a Imaginação




Nunca havia pensado que, enquanto geóloga, com uma formação tão específica, voltada para o estudo da terra, suas formações, estruturas, poderia trabalhar com meio ambiente.Uma Floresta, A Floresta exerce , no entanto, um fascínio, mexe em nosso imaginário e nos seduz.
Maria Rita Kelh,psicanalista, num artigo denominado "Reservas Ambientais, Reservas do Imaginário" nos fala necessidade da natureza em estado bruto para sobrevivermos. Escreve a psicanalista " As reservas naturais, mesmo para quem nunca saiu de um apartamento na avenida Paulista,são reservas do nosso imaginário. Mesmo quem nunca pisou na Antártida ou na Amazôniasabe que habita um planeta onde vivem araras e pinguins, onde existem grandes florestas e grandes geleiras, onde nem tudo tem a cara da nossa civilização.Precisamos das reservas naturais como reservas de mistério, de desconhecido,reservas para nosso fascínio e nosso medo. Reservas de escuridão. Já pensaram que a escuridão total, completa, de uma noite sem lua e sem estrelas, é quase uma desconhecida para a maioria de nós? Reservas de silêncio, como no deserto. Reservas de cheiros estranhos, que nos remetem a um mundo sem humanidade, o mundo das nossasorigens perdidas no tempo. Reservas de memória, da memória da espécie, impossível de se guardarem computador. Reservas para o inconsciente. Reservas de humildade, onde devemos ser lembrados da insignificância de nossa condição no universo. Reservas de instintos, de pulsões, de fúria, de desamparo. Nós não seríamos humanos se não existissem as grandes reservas naturais".
Assim eu percebo a história da Araucária, uma Floresta que tentamos esquecer mas mesmo tão pouca (menos de 0,5% no Estado do Paraná) ela faz parte do nosso imaginário, traz lembranças nem tão antigas para muitos, memórias de infância, de tempos felizes. Também reatualiza, a todo instante, nossa memória sobre episódios tristes da intervenção humana simplificativa que a coloca em colapso.

Iniciando...







Histórias ambientais pretende ser um misto de escritos, palavras, imagens sobre os caminhos que trilho em busca do entendimento sobre a conservação ambiental no Brasil. Expressará meus conhecimentos..ainda poucos -com certeza - minhas dúvidas, minhas angústias. Falar do Outro , a quem chamo Ambiente Que nos Cerca , será muitas vezes feito através de uma colagem..fragmentos reunidos de outros saberes.


Com a ajuda do fotográfo Miguel Von Berh, que fez um trabalho fotográfico incrível sobre a Floresta com Araucária no Paraná, através das FLONAS (Florestas Nacionais) em 2005, vou iniciar pretendendo contar a história dessa floresta.