segunda-feira, 23 de abril de 2007

Só para relembrar!

No livro do Warren Dean, a Ferro e Fogo, a História e a Devastação da Mata Atlântica Brasileira (1995: já se vão 12 anos...) lá no final, ele coloca o seguinte :
"uma pesquisa de opinião de 1987 demonstrou que 90% dos brasileiros vivendo nos antigos domínios da Mata Atlântica nunca tinham ouvido falar dela. O modo de seu desaparecimento foi apagado do banco de memória até de sua classe média:apenas 2.6% de uma amostra de estudantes do Paraná na cidade de Maringá foram capazes,em 1983, de lembrar que, vinte anos antes, sua região havia passado por seca , geada, e incêndios catastróficos que destruíram 21 mil km2 das florestas de seu estado. NÃO DEVERIA ESTE HOLOCAUSTO PRODUZIDO PELO HOMEM SER RELATADO DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO? Não deveria o manual de história aprovado pelo Ministério de Educação começar assim: Crianças, vocês vivem em um deserto, vamos lhes contar como foi que foram deserdadas"?(Foto: Ministério do Meio Ambiente, Força Tarefa para a Criação das novas Unidades de Conservação da Araucária)

De Repente, nas Profundezas do Bosque...

Sou uma pessoa bastante curiosa e , por tudo o que aqui se encontra já escrito, profundamente intrigada com a questão humana versus meio ambiente. Existe um "link" entre nosso confortável dia a dia e a destruição eminente. Sigo assim, em caminhos outros, buscando em outras paragens respostas para isto que me faz questão.
Encontro a resenha de um livro no Jornal Estado de São Paulo deste domingo, dia 22 de abril, aliás Dia da Terra...a Terra dos Nossos Sonhos. Algo ressalta ao meus olhos e me induz à leitura: "HISTÓRIA SE PASSA EM ALDEIA ONDE OS ANIMAIS SÃO LENDAS".
Trata-se do livro do escritor israelense Amós Oz chamado "De Repente, nas Profundezas do Bosque".
Eis o comentário produzido por Wilson Bueno:
"Conta o autor a história de uma aldeia de onde desapareceram (ou foram extintos?) todos os animais - dos silvestres aos domésticos e onde não sobrou sequer um único pardal ou o mais reles cupim, tudo virou 'lenda'. Tudo acontece apenas na memória, entre outros, da professora Emanuela, mal-amada e obsessiva, a história pretérita da aldeia, com sua diversificada e inquieta fauna, seus cães e gatos, passarinhos e borboletas, sapos e mariposas, tudo se converte no delírio de quem, a exemplo dela, por sozinha e carente, vive no mundo do 'era uma vez'...As novas gerações duvidam, e duvidam tenazmente, de que tais elementos 'fantasmagóricos' tenham um dia existido. A não ser na fértil imaginação dos mais velhos... Uma gente disposta a fazer do passado, como de hábito, exercício fantasioso, seja pelo viés da nostalgia que marca as lembranças acossadas pelo devaneio, seja porque não tendo o que contar, mais que 'inventam' - 'fabulizam', 'viajam' no passado por tudo o que de 'in-provável' mora nele.Provocadas pelo mistério, duas crianças aldeãs, Maia e Mati, decidem empreender percuciente investigação à cata da verdade.
De novo, a fábula da fábula se coloca impactante e desafiadora - terão existido mesmo os bichos de que falam os mais velhos ou tudo não passa da projeção de vidas sem história e, porque sem história, plenas de invencionices as mais exacerbadas? Como podem existir seres que voam e trinam? Que estórias são estas em que uns tais de cães ladram e uns que tais cavalos relincham?(...) .Os bichos, todos os bichos desapareceram da aldeia porque maltratados por seus habitantes: os cavalos, porque chicoteados sistematicamente; os gatos porque afogados e apedrejados; os cães porque duramente castigados por seus donos; os insetos porque dizimados por toda sorte de venenos."
Bom ,eu não li ainda o livro mas confesso que fiquei bastante curiosa pois dizem , por aí, que a vida imita a arte ...
Leia um trechinho do livro
Capítulo 1
A professora Emanuela explicou à classe como é um urso, como os peixes respiram e que sons a hiena produz à noite. Ela também pendurou na sala gravuras de animais e aves. Quase todos os alunos debocharam dela, porque nunca na vida tinham visto um animal sequer. E muitos deles não acreditaram que existissem no mundo tais criaturas. Pelo menos nas redondezas. Sem contar, disseram, sem contar que a professora não tinha conseguido encontrar na aldeia alguém que topasse ser seu marido, e por isso, disseram, a cabeça dela estava cheia de raposas, pardais, todo o tipo de invencionice que as pessoas sozinhas criam devido à solidão.

domingo, 15 de abril de 2007

Conservação?Tempo?Filosofia?

Neste processo de reflexão, confuso caminho ou mesmo tortuoso encontro este texto do Dr. Ibsen Gusmão de Câmara na Revista Conservação e Natureza,2004. No início do artigo ele resgata uma passagem escrita por Marius Jacobs :
"algo ocorreu com o termo conservação.Em folheto do Centro de Conservação para o Desenvolvimento da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais) , a palavra é definida como "manejar nosso uso do meio ambiente para garantir o máximo de benefícios para o homem - no presente e no futuro". Isto soa mais como uma intenção de conservar o homem do que a natureza...Entretanto, o benefício para o homem não conhece limites:na nova acepção restrita , conservação é definida para [atender ao] único animal cujas necessidades são infinitas, e ao qual todos os outros devem subordinar-se ...um conceito tendencioso se esconde no lema "Conservação para o Desenvolvimento". A conservação age a longo prazo. Um milênio é uma ninharia.Poucos se lembram de que foram necessários 35.000 milênios para que as floresta da Malásia evoluíssem... O processo ao qual todas as criaturas devem tudo, a evolução, é que deve ser protegido em primeiro lugar....Agora, no desenvolvimento, tudo é feito às pressas ...Conservação para o Desenvolvimento então significa que devemos subordinar o permanente ao temporário...Na verdade conservação sempre significou:proteger a natureza.De quê?Claro está, do Homo sapiens.É tão simples quanto isto."
Dr Gusmão continua sua análise ( o artigo realmente merece ser lido em sua totalidade):
Desde a" explosão cambriana ", há cerca de 540 milhões de anos, quando surgiram quase todos os filos dos seres multicelulares, no curto, do ponto de vista geológico- espaço de cinco a dez milhões de anos, a Terra presenciou pelo menos cinco intensos episódios de extinção em massa, cujas causas naturais ainda não estão satisfatoriamente esclarecidas . No que pesem estes espamos de extinção e a ocorrência lenta e ininterrupta de desaparecimento de espécies durante os seus intervalos, a evolução permitiu que a diversidade biológica , apesar de altos e baixos, tenha se mantido com tendência de aumento. os primeiros hominídeos provavelmente a viram em seu apogeu. Hoje , contudo, nos encontramos envolvidos em uma sexta crise com intensidade comparável às do passado.(....) Mas a crise atual é diferente. pela primeira vez ela foi provocada por uma única espécie: o homem.
A consequência mais grave e duradoura dessa recente catastrófe biológica são suas profundas repercussões no futuro da vida .Cada espécie desaparecida significa a eliminação antecipada de todas as demais formas de vida que dela eventualmente poderiam derivar.
(...) A conservação da natureza é um dever ético da espécie humana(....)!



Ibsen Gusmão de Câmara.As Unidades de Conservação e o paradigma de Durban.Revista Natureza e Conservação.outubro de 2004.volume 2.número 2. Fundação Boticário de Proteção à Natureza.

As ameaças que perpetuam

Enquanto o debate avança sobre a questão das mudanças climáticas pelas notícias geradas através do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas(IPCC) a discussão sobre a preservação da Floresta com Araucária permanece no seu mais absoluto, aterrorizante silêncio.
Com certeza, e muito já se disse sobre isso,neste exato momento, em algum lugar , alguma araucária está sendo abatida...

quarta-feira, 28 de março de 2007

terça-feira, 27 de março de 2007

A Leitura da Paisagem - Parte Um

Poucas são as formações florestais brasileiras que têm sua fisionomia tão bem caracterizada pela presença de uma espécie vegetal como a Floresta Ombrófila Mista (segundo o sistema de classificação do IBGE) ou Floresta de Araucária.
A Floresta com Araucária é reconhecida como um conjunto vegetacional com fisionomia característica, recebendo denominações diversas, tais como floresta de pinheiros, pinhais, pinheirais, zona dos pinhais, mata de Araucária e floresta aciculifoliada subtropical, entre outras.
É característica do sul do Brasil se constituindo num ecossistema único no planeta pela presença predominante do pinheiro-do-paraná ou pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifolia), uma das espécies mais antigas da flora brasileira.
A araucária chega a viver até 700 anos, alcançando diâmetro de dois metros e altura de até 50 metros apresentando árvores de tronco reto onde as copas dão um destaque especial à paisagem.
No sub-bosque da floresta ocorre uma complexa e grande variedade de espécies, como a canela sassafrás, a imbuia, e o xaxim, espécies ameaçadas de extinção, algumas das quais endêmicas.



terça-feira, 20 de março de 2007

A Floresta na Cultura


Comemora-se amanhã, o dia da Floresta, 21 de março. Pergunto-me:comemora-se onde? de que jeito? de que forma? As comemorações hoje em dia já não fazem parte do cotidiano dos indivíduos. De qualquer forma o texto abaixo faz parte dessa proposta de reflexão!

As atuais comemorações do Dia Mundial da Floresta têm as suas raízes em manifestações mais longínquas, nomeadamente o ancestral culto das Árvores e das Florestas que existiu em diversas culturas primitivas ou muito antigas, cuja simbologia nalguns casos ainda hoje perdura.
A Árvore é um dos temas simbólicos mais ricos e mais generalizados de todos os tempos e civilizações:
*símbolo de verticalidade estabelecendo a comunicação entre o mundo subterrâneo (pelas suas raízes), a superfície da terra (pelo tronco) e as alturas (através dos ramos e da copa);
símbolo da vida;
* símbolo da transformação e evolução (ciclos anuais, morte e regeneração);
* símbolo do sagrado: em certas religiões antigas, nomeadamente nas pré-helênica e Celtas havia árvores consagradas aos deuses;
*símbolo de uma família, de uma cidade, de um rei ou de um país (folha de ácer no Canadá, o cedro no Líbano, a palmeira de Cuba);
* símbolo de fecundidade, da fertilidade, da vida (no deserto não há árvores);
* símbolo da vida do espírito e do conhecimento;
* símbolo de segurança (pela sua estabilidade) e de protecção (pela sua sombra).
As árvores ultrapassando largamente os homens em dimensão, em altura e em longevidade, quase parecendo eternas, adquirem uma dimensão "sobrenatural" de representantes dos deuses e por isso foram frequentemente consideradas sagradas e tornadas objeto de culto.
Os Gregos e os Romanos tinham o culto de várias divindades que associaram às árvores: a oliveira era a árvore de Minerva, o choupo de Hércules, o pinheiro de Cibele, o loureiro de Apolo, o freixo de Marte e o carvalho de Júpiter, por exemplo.
Os Celtas acreditavam na magia das árvores e que cada uma possuía o seu próprio poder. Dividiram o ano em 21 partes e atribuíram a cada uma delas uma árvore sagrada.
Diferentes árvores têm diferentes simbologias associadas: o carvalho representa solidez, potência, longevidade, força, majestade, sabedoria e hospitalidade; o castanheiro, previdência; a cerejeira, pureza, felicidade, prosperidade; a nogueira o dom da profecia; o cipreste, luto e longevidade, virtudes espirituais, santidade; o loureiro, imortalidade e glória; a oliveira simboliza a paz, fecundidade, purificação; o salgueiro chorão, morte, tristeza, imortalidade e a tília amizade e fidelidade.
Essa mesma simbologia estendeu-se também às florestas. O desconhecido, a dificuldade de ver ao longe, a obscuridade no seu interior e os ruídos estranhos e indefinidos constituíram fonte de inquietação para os homens e tornaram as florestas, em diversas civilizações, local de culto, de reunião de druidas, de oráculos, de lendas, de aplicação de justiça ou ainda lugar de cerimónia de iniciação de adolescentes ou de sepultura.
A floresta como espaço de mistério, de forças ocultas e sentimentos conflituais excita a imaginação e o fantástico constituindo-se como fonte inesgotável de mitos, crenças, lendas, fábulas, contos infantis e contos de fadas, assim como espaço habitado por espíritos, uns bons e outros maus, uns visíveis e outros invisíveis, como as fadas, as ninfas, os troll, os ogres, as dríades, os faunos, os sátiros, os gnomos, os elfos, os lobisomens e o próprio diabo.

domingo, 18 de março de 2007

Diário da Araucária, 18 de março de 2007

Esta semana tivemos muitas noticias circulando de que Marina Silva continua como Ministra do Meio Ambiente. Isto é algo bom apesar de sabermos das pressões contrárias existentes, principalmente, por conta do embate para implantação dos ditos "grandes projetos para o desenvolvimento do nosso país".

Sabemos, com certeza, de que este segundo mandato será de maior desafio ainda para a Ministra mas suas palavras de que "eu me alimento de fé, determinação e desafios" (Jornal Folha de São Paulo, 7 de janeiro de 2007) deixam transparecer um pouco dessa mulher extraordinária e, que teremos muito a ganhar com a sua permanência.

Marina tem se comprometido com a preservação da Floresta com Araucária, estimulando a criação de novas áreas para sua proteção bem como apoiado- através da Diretoria de Proteção do IBAMA- a realização de operações de fiscalização na região sul.

Mas apesar dos avanços é preciso mais...precisamos nos deixar tocar por uma energia de vida, pulsante , para alimentar a nossa fé e guiar os nossos passos em direção ao que é preciso ser feito: é preciso "pensar" um grande projeto de conservação na região sul, é preciso instituir um serviço de inteligência no combate ao crime ambiental.

Precisamos fomentar parcerias, tecer laços mais permanentes em torno do objeto comum de nosso desejo , se é que assim posso chamar , esse comprometimento com a conservação ( que admite uso sustentável) e com a preservação (intocável) do pouco que resta dessas nossas Reservas Ambientais que alimentam o nosso imaginário e sem as quais não podemos sobreviver.
Semana passada tivemos mais noticias sobre a continuidade do processo de desmatamento em Santa Catarina (http://blogdoplaneta.globolog.com.br/).
Nesta semana, aqui no Paraná a empresa Berneck foi autuada pelo Instituto Ambiental do Paraná, pelo corte de mais de 13 mil árvores incluindo araucárias, no munícípio da Lapa.Árvores em estágio médio de sucessão.

Então ... é nesse movimento, que ora elaboro, que procuro ter acesso à dimensão dessa história que nos vem do passado e que incessantemente não para de se inscrever: os desmatamentos e aquilo que representam, algo do discurso social que ainda não está BEM DITO.
É preciso mais do que foi feito... é preciso nos superar na proteção dos últimos remanescentes da Araucária.
Tempo de pensar!

terça-feira, 13 de março de 2007

O Futuro de Uma Ilusão

(...) Foi precisamente por causa dos perigos com que a natureza nos ameaça que nos reunimos e criamos a civilização, a qual também,entre outras coisas , se destina a tornar possível nossa vida comunal, pois a principal missão da civilização, sua raison d"etre real, é nos defender contra a natureza.




Todos sabemos que, de diversas maneiras, a civilização já faz isto bastante bem, e é claro que , na medida em que o tempo passa , o fará muito melhor.

Ninguém , no entanto, alimenta a ilusão de que a natureza já foi vencida, e poucos se atrevem a ter esperanças de que ela um dia se submeta ao homem.Há os elementos que parecem escarnecer de qualquer controle humano:a terra, que treme, se escancara e sepulta toda a vida humana e suas obras;a água, que inunda e afoga tudo num torvelinho;as tempestades, que arrastam tudo que se lhes antepõe;as doenças que, só recentemente identificamos como sendo ataques de outros organismos, e, finalmente, o penoso enigma da morte,contra o qual remédio algum foi encontrado e provavelmente nunca será.

É com essas forças que a natureza se ergue contra nós, majestosa, cruel e inexorável; uma vez mais nos traz à mente nossa fraqueza e desemparo, de que pensávamos ter fugido através do trabalho de civilização.
Sigmund Freud .O futuro de uma ilusão (1927).

Fotos:Helio Sydol, IBAMA/PR-Operação de Fiscalizaçao em Palmas -PR,2006


domingo, 11 de março de 2007

Restarão tão poucas árvores em sua floresta que um menino poderá contá-las...(Isaías:10-19)


Região de Guarapuava, 2005. Incêndio criminoso -Foto Hélio Sydol-IBAMA/PR




Informações sobre a extensão original da Floresta com Araucária ou Floresta Ombrófila Mista estimam em cerca de 182.295 Km2 nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Segundo Mack (1968), o Paraná possuia a maior área - 73.780 km2 ou 37 % da área do Estado .








(Fonte:www.sosmatatlantica.org.br/)


Os limites de ocorrência da Floresta com Araucária no Estado do Paraná










A cobertura florestal existente no estado do Paraná, de acordo com os estudos realizados pelo Ministério do Meio Ambiente através do Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira -PROBIO, finalizado em 2001, foi subdividida em três categorias: estágio inicial, médio e avançado, representando respectivamente, as florestas nativas de menor para maior biodiversidade.


Os estudos diagnosticam que as florestas em estágio inicial de sucessão (capoeirões e florestas que foram intensamente exploradas) totalizaram na Floresta com Araucária, 1.164.425 ha (14,04 % da área do bioma).


As florestas em estágio médio de conservação totalizaram 1.200.168 ha , cerca de 14,47 % da área do bioma. Estas florestas apresentam uma série de situações distintas, desde áreas abandonadas e não degradadas durante um período de mais de 40 anos, em franco processo de recuperação, ou, florestas bem desenvolvidas, onde houve uma degradação intensa, mas ainda guardando uma certa diversidade florística e de formas de vida.


Já as florestas em estágio avançado de sucessão representam apenas 0,8 % (66.109 ha), encontrando-se espalhadas em diversas regiões no estado. E são estes remanescentes, de extrema importância ambiental que estão sofrendo impactos por conta do desmatamento indiscriminado acarretando a perda de sua biodiversidade e mesmo total aniquilação. Os resultados do PROBIO, em 2001, alertavam que, no atual processo de intervenção, em menos de 10 anos não será possível mais identificá-los.

Na figura do mapa abaixo, podemos a visualizar, de certa forma, a situação descrita acima. Os tons de verde mais escuro se referem aos remanescentes de Floresta em estágio médio de sucessão e os tons mais amarelos , os de estágio inicial. As grandes áreas em vermelho são os reflorestamentos . Infelizmente, mesmo tendo em mãos o mapa original (escala 1:600.000) , as áreas em estágio avançado de sucessão são bastante dificeis de serem vistas .








Mapa dos Remanescentes da Floresta com Araucária no Estado do Paraná



Fonte das informações


A Floresta com Araucária no Paraná:conservação e diagnóstico dos remanescentes florestais. Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná;apoio:Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira -PROBIO:organizadores, Paulo Roberto Castella, Ricardo Miranda de Britez.Brasília:Ministério do Meio Ambiente,2004.







segunda-feira, 5 de março de 2007

A nossa primeira história







Aprendi que a psicanálise propõe que o tempo não passa, que é um real que retorna sempre no mesmo lugar. A história de destruição,parte da nossa luta pela conservação ambiental, faz-me pensar nisso, como se fosse esse real que retorna sempre e nos assombra.




No entanto, acredito que existe algo a mais, da ordem da POSSIBILIDADE, que nos diz que essa repetição pode parar desde que algo de NOVO aí se instale. Eu não tenho ainda essa resposta mas NASIO [1] (1999) diz: “(...) a vontade, um desejo ferrenho de saber (...) para apreender as causas secretas que movem um ser é preciso e acima de tudo , descobrir essas causas em si mesmo, voltar a si (...) emprestar o próprio eu ao desejo de desvendar um enigma (...).




Germano Woehl Jr. , do Instituto Rã-Bugio, uma ONG de Santa Catarina que " cuida de cuida de sapos, rãs e pererecas, briga com as motosserras que lanham as últimas grotas de Mata Atlântica no interior do estado e raspa seus cofres de assalariado para comprar relíquias da floresta, antes que os proprietários as destruam[2]" conta para nós sobre o seu sentimento de paixão pela Mata das Araucárias. ( http://www.ra-bugio.org.br )





Para mim, histórias como estas são pistas desse enigma que nos move em busca de lutar pelo o que acreditamos. Essa, primeira de tantas outras histórias que aí estão sendo contadas, ou mesmo aquelas que infelizmente nunca ouviremos, me fala desse algo NOVO que procuro, me conta que mesmo que o horror da destruição esteja momentaneamente instaurado as possibilidades do que disso advém ainda são maravilhosas.




UM PEDACINHO DE FUTURO ?


Eu nasci e vivi até meus 17 anos em Itaiópolis, município do planalto norte de Santa Catarina, campeão em desmatamento de Mata de Araucárias, entre 1985 e 1996. E já bastante devastado quando vivi lá, bem antes desse período. A Floresta Atlântica densa eu só fui conhecer quando tinha 14 anos, numa excursão para o litoral.
Foi paixão a primeira vista! Lembro-me até hoje daquele cenário deslumbrante da Serra do Mar catarinense, com uma natureza que parecia intacta – e realmente era, quase intacta. Este é o lugar! – pensei. Na primeira oportunidade, anos mais tarde, em 1994, finalmente adquirimos um pedaço do paraíso, em Guaramirim, SC. São apenas 5 hectares, mas nas bordas de um extenso fragmento preservado, separado apenas por uma estrada da área contínua, que segue até a Serra Dona Francisca (Serra do Mar), em Joinville.
Já nos primeiros dias as expectativas foram superadas, e muito. Fiquei extasiado com a quantidade de bichos. Para onde dirigia meus olhos, via algo diferente. À noite, com uma lanterna, presenciei o maior espetáculo da minha vida: observei 16 espécies de anfíbios, coaxando numa única noite, e numa quantidade impressionante de cada espécie! Saí ensurdecido das margens da lagoa, devido aos estridentes coaxares dessas magníficas criaturas, que exercem sobre mim um enorme fascínio desde a infância.







O grande interesse em lutar pela conservação da natureza começou a se intensificar a partir desse momento. Um profundo sentimento de compaixão por todas as criaturas do paraíso começou a me dominar. Era necessário começar a fazer alguma coisa para salvá-las, além da compra daquela área. Sabia das possíveis conseqüências dos desmatamentos intensos, que ocorriam por todos os lados e que, lamentavelmente, ainda não cessaram. Já havia perdido a ilusão de fazer daquela área uma Arca de Noé, mesmo protegida com unhas e dentes. Para salvar a biodiversidade era necessário fazer muito mais: era preciso sensibilizar as pessoas para terem o mesmo sentimento.
Então, eu e a Elza, minha esposa, decidimos ir à luta. Encaramos a defesa da Mata Atlântica como nosso projeto de vida. Com nossa dedicação logo obtivemos apoio da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza e, mais tarde, da Fundação Avina, que nos apoiou na criação de uma organização não-governamental (ONG), o Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade, como forma de institucionalizar nossas ações.
O que me surpreende é o fato de estarmos há mais de 10 anos lá, com o olho atento a tudo, e a cada dia vemos um bicho diferente. A cada instante surge uma espécie de pássaro diferente, uma lagarta, uma mariposa... E não é só bicho pequeno, não. No ano passado, uma onça parda deixou suas pegadas a dois metros da nossa casa, entrou em disputa com uma jaguatirica pelos nossos gansos de estimação, os únicos guardas da casa. E acabaram por devorar todos os sete, em poucas semanas.
Esse pedacinho da Mata Atlântica me ensinou muita coisa, mostrou-me a necessidade e urgência em combater a ganância do homem, que não quer dar nenhuma chance à perpetuação dessa extraordinária quantidade de formas de vida. O ataque impiedoso aos últimos vestígios da Mata Atlântica original torna, de acordo com a Ciência, bastante incerta a sobrevivência do que resta dessa nossa mega biodiversidade. Para uma sociedade egoísta, interessada apenas em buscar meios de transformar a natureza em dinheiro, não tenho nenhuma ilusão de que será uma tarefa fácil difundir outros valores. Mas para as gerações futuras da nossa própria espécie, capazes, talvez, de deter esse terrível e insaciável poder de destruição, mantemos um paciente programa de educação ambiental. Quem sabe elas sigam com a missão de mudar aqueles que parecem determinados a aniquilar todas as formas de vida do planeta?
Germano Woehl Jr. (
germano@ra-bugio.org.br ) é doutor em Física e Coordenador de Projetos do Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade ( www.ra-bugio.org.br )



[1] NASIO, Juan-Davi. O prazer de ler Freud. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1999. P. 12.

[2] Corrêa, Marcos Sá.Sinais da Vida. Fundação Boticário,2005.

quinta-feira, 1 de março de 2007

A Floresta na Poesia



Na Floresta do Alheamento
(um recorte dos escritos de Fernando Pessoa)

(...) Lá fora a antemanhã tão longínqua! A floresta tão aqui ante outros olhos meus! E eu, que longe dessa paisagem quase a esqueço, é ao tê-la que tenho saudades dela, é ao percorrê-la que a choro e a ela aspiro (...)

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

A cultura da degradação



Em meados de 1820, inicia-se uma uma nova onda de colonização européia com novos valores e padrões tecnológicos . A partir deste momento, machados, serras (traçadores), cunhas e a força bruta escreveram um novo capítulo da história de exploração da Araucária angustifolia, o popular pinho brasileiro. Comparada às melhores madeiras oriundas do hemisfério norte, a araucária passa a revestir desde o piso da nobreza européia até o telhado das casas dos caboclos sulinos.



Na Exposição de Viena, realizada em 1873, o Brasil recebeu dois diplomas de honra: um, pelo café (plantado sobre os escombros da floresta) e, outro, dado à Companhia Florestal Paranaense, que levou entre outras amostras, um pinheiro (Araucária angustifolia), de 33 metros de altura, que foi remontado com ajuda de grandes andaimes (da mesma madeira).
O objetivo da exposição era mostrar aos europeus as vantagens desta extraordinária árvore que produzia tábuas, nós, frutos, resina e carvão.



(Fonte: Saudade do Matão, Tereza Urban).





Pátio da Serraria da South Brazilian Lumber and Colonization, 1920, Porto União-SC.


Cortes das Araucárias para exportação.


Fonte: A Mata Atlântica e você, 2002 -Fotos de Luiz Szczerbowski)

A Floresta e a Imaginação




Nunca havia pensado que, enquanto geóloga, com uma formação tão específica, voltada para o estudo da terra, suas formações, estruturas, poderia trabalhar com meio ambiente.Uma Floresta, A Floresta exerce , no entanto, um fascínio, mexe em nosso imaginário e nos seduz.
Maria Rita Kelh,psicanalista, num artigo denominado "Reservas Ambientais, Reservas do Imaginário" nos fala necessidade da natureza em estado bruto para sobrevivermos. Escreve a psicanalista " As reservas naturais, mesmo para quem nunca saiu de um apartamento na avenida Paulista,são reservas do nosso imaginário. Mesmo quem nunca pisou na Antártida ou na Amazôniasabe que habita um planeta onde vivem araras e pinguins, onde existem grandes florestas e grandes geleiras, onde nem tudo tem a cara da nossa civilização.Precisamos das reservas naturais como reservas de mistério, de desconhecido,reservas para nosso fascínio e nosso medo. Reservas de escuridão. Já pensaram que a escuridão total, completa, de uma noite sem lua e sem estrelas, é quase uma desconhecida para a maioria de nós? Reservas de silêncio, como no deserto. Reservas de cheiros estranhos, que nos remetem a um mundo sem humanidade, o mundo das nossasorigens perdidas no tempo. Reservas de memória, da memória da espécie, impossível de se guardarem computador. Reservas para o inconsciente. Reservas de humildade, onde devemos ser lembrados da insignificância de nossa condição no universo. Reservas de instintos, de pulsões, de fúria, de desamparo. Nós não seríamos humanos se não existissem as grandes reservas naturais".
Assim eu percebo a história da Araucária, uma Floresta que tentamos esquecer mas mesmo tão pouca (menos de 0,5% no Estado do Paraná) ela faz parte do nosso imaginário, traz lembranças nem tão antigas para muitos, memórias de infância, de tempos felizes. Também reatualiza, a todo instante, nossa memória sobre episódios tristes da intervenção humana simplificativa que a coloca em colapso.

Iniciando...







Histórias ambientais pretende ser um misto de escritos, palavras, imagens sobre os caminhos que trilho em busca do entendimento sobre a conservação ambiental no Brasil. Expressará meus conhecimentos..ainda poucos -com certeza - minhas dúvidas, minhas angústias. Falar do Outro , a quem chamo Ambiente Que nos Cerca , será muitas vezes feito através de uma colagem..fragmentos reunidos de outros saberes.


Com a ajuda do fotográfo Miguel Von Berh, que fez um trabalho fotográfico incrível sobre a Floresta com Araucária no Paraná, através das FLONAS (Florestas Nacionais) em 2005, vou iniciar pretendendo contar a história dessa floresta.