segunda-feira, 23 de abril de 2007

Só para relembrar!

No livro do Warren Dean, a Ferro e Fogo, a História e a Devastação da Mata Atlântica Brasileira (1995: já se vão 12 anos...) lá no final, ele coloca o seguinte :
"uma pesquisa de opinião de 1987 demonstrou que 90% dos brasileiros vivendo nos antigos domínios da Mata Atlântica nunca tinham ouvido falar dela. O modo de seu desaparecimento foi apagado do banco de memória até de sua classe média:apenas 2.6% de uma amostra de estudantes do Paraná na cidade de Maringá foram capazes,em 1983, de lembrar que, vinte anos antes, sua região havia passado por seca , geada, e incêndios catastróficos que destruíram 21 mil km2 das florestas de seu estado. NÃO DEVERIA ESTE HOLOCAUSTO PRODUZIDO PELO HOMEM SER RELATADO DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO? Não deveria o manual de história aprovado pelo Ministério de Educação começar assim: Crianças, vocês vivem em um deserto, vamos lhes contar como foi que foram deserdadas"?(Foto: Ministério do Meio Ambiente, Força Tarefa para a Criação das novas Unidades de Conservação da Araucária)

De Repente, nas Profundezas do Bosque...

Sou uma pessoa bastante curiosa e , por tudo o que aqui se encontra já escrito, profundamente intrigada com a questão humana versus meio ambiente. Existe um "link" entre nosso confortável dia a dia e a destruição eminente. Sigo assim, em caminhos outros, buscando em outras paragens respostas para isto que me faz questão.
Encontro a resenha de um livro no Jornal Estado de São Paulo deste domingo, dia 22 de abril, aliás Dia da Terra...a Terra dos Nossos Sonhos. Algo ressalta ao meus olhos e me induz à leitura: "HISTÓRIA SE PASSA EM ALDEIA ONDE OS ANIMAIS SÃO LENDAS".
Trata-se do livro do escritor israelense Amós Oz chamado "De Repente, nas Profundezas do Bosque".
Eis o comentário produzido por Wilson Bueno:
"Conta o autor a história de uma aldeia de onde desapareceram (ou foram extintos?) todos os animais - dos silvestres aos domésticos e onde não sobrou sequer um único pardal ou o mais reles cupim, tudo virou 'lenda'. Tudo acontece apenas na memória, entre outros, da professora Emanuela, mal-amada e obsessiva, a história pretérita da aldeia, com sua diversificada e inquieta fauna, seus cães e gatos, passarinhos e borboletas, sapos e mariposas, tudo se converte no delírio de quem, a exemplo dela, por sozinha e carente, vive no mundo do 'era uma vez'...As novas gerações duvidam, e duvidam tenazmente, de que tais elementos 'fantasmagóricos' tenham um dia existido. A não ser na fértil imaginação dos mais velhos... Uma gente disposta a fazer do passado, como de hábito, exercício fantasioso, seja pelo viés da nostalgia que marca as lembranças acossadas pelo devaneio, seja porque não tendo o que contar, mais que 'inventam' - 'fabulizam', 'viajam' no passado por tudo o que de 'in-provável' mora nele.Provocadas pelo mistério, duas crianças aldeãs, Maia e Mati, decidem empreender percuciente investigação à cata da verdade.
De novo, a fábula da fábula se coloca impactante e desafiadora - terão existido mesmo os bichos de que falam os mais velhos ou tudo não passa da projeção de vidas sem história e, porque sem história, plenas de invencionices as mais exacerbadas? Como podem existir seres que voam e trinam? Que estórias são estas em que uns tais de cães ladram e uns que tais cavalos relincham?(...) .Os bichos, todos os bichos desapareceram da aldeia porque maltratados por seus habitantes: os cavalos, porque chicoteados sistematicamente; os gatos porque afogados e apedrejados; os cães porque duramente castigados por seus donos; os insetos porque dizimados por toda sorte de venenos."
Bom ,eu não li ainda o livro mas confesso que fiquei bastante curiosa pois dizem , por aí, que a vida imita a arte ...
Leia um trechinho do livro
Capítulo 1
A professora Emanuela explicou à classe como é um urso, como os peixes respiram e que sons a hiena produz à noite. Ela também pendurou na sala gravuras de animais e aves. Quase todos os alunos debocharam dela, porque nunca na vida tinham visto um animal sequer. E muitos deles não acreditaram que existissem no mundo tais criaturas. Pelo menos nas redondezas. Sem contar, disseram, sem contar que a professora não tinha conseguido encontrar na aldeia alguém que topasse ser seu marido, e por isso, disseram, a cabeça dela estava cheia de raposas, pardais, todo o tipo de invencionice que as pessoas sozinhas criam devido à solidão.

domingo, 15 de abril de 2007

Conservação?Tempo?Filosofia?

Neste processo de reflexão, confuso caminho ou mesmo tortuoso encontro este texto do Dr. Ibsen Gusmão de Câmara na Revista Conservação e Natureza,2004. No início do artigo ele resgata uma passagem escrita por Marius Jacobs :
"algo ocorreu com o termo conservação.Em folheto do Centro de Conservação para o Desenvolvimento da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais) , a palavra é definida como "manejar nosso uso do meio ambiente para garantir o máximo de benefícios para o homem - no presente e no futuro". Isto soa mais como uma intenção de conservar o homem do que a natureza...Entretanto, o benefício para o homem não conhece limites:na nova acepção restrita , conservação é definida para [atender ao] único animal cujas necessidades são infinitas, e ao qual todos os outros devem subordinar-se ...um conceito tendencioso se esconde no lema "Conservação para o Desenvolvimento". A conservação age a longo prazo. Um milênio é uma ninharia.Poucos se lembram de que foram necessários 35.000 milênios para que as floresta da Malásia evoluíssem... O processo ao qual todas as criaturas devem tudo, a evolução, é que deve ser protegido em primeiro lugar....Agora, no desenvolvimento, tudo é feito às pressas ...Conservação para o Desenvolvimento então significa que devemos subordinar o permanente ao temporário...Na verdade conservação sempre significou:proteger a natureza.De quê?Claro está, do Homo sapiens.É tão simples quanto isto."
Dr Gusmão continua sua análise ( o artigo realmente merece ser lido em sua totalidade):
Desde a" explosão cambriana ", há cerca de 540 milhões de anos, quando surgiram quase todos os filos dos seres multicelulares, no curto, do ponto de vista geológico- espaço de cinco a dez milhões de anos, a Terra presenciou pelo menos cinco intensos episódios de extinção em massa, cujas causas naturais ainda não estão satisfatoriamente esclarecidas . No que pesem estes espamos de extinção e a ocorrência lenta e ininterrupta de desaparecimento de espécies durante os seus intervalos, a evolução permitiu que a diversidade biológica , apesar de altos e baixos, tenha se mantido com tendência de aumento. os primeiros hominídeos provavelmente a viram em seu apogeu. Hoje , contudo, nos encontramos envolvidos em uma sexta crise com intensidade comparável às do passado.(....) Mas a crise atual é diferente. pela primeira vez ela foi provocada por uma única espécie: o homem.
A consequência mais grave e duradoura dessa recente catastrófe biológica são suas profundas repercussões no futuro da vida .Cada espécie desaparecida significa a eliminação antecipada de todas as demais formas de vida que dela eventualmente poderiam derivar.
(...) A conservação da natureza é um dever ético da espécie humana(....)!



Ibsen Gusmão de Câmara.As Unidades de Conservação e o paradigma de Durban.Revista Natureza e Conservação.outubro de 2004.volume 2.número 2. Fundação Boticário de Proteção à Natureza.

As ameaças que perpetuam

Enquanto o debate avança sobre a questão das mudanças climáticas pelas notícias geradas através do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas(IPCC) a discussão sobre a preservação da Floresta com Araucária permanece no seu mais absoluto, aterrorizante silêncio.
Com certeza, e muito já se disse sobre isso,neste exato momento, em algum lugar , alguma araucária está sendo abatida...

quarta-feira, 28 de março de 2007

terça-feira, 27 de março de 2007

A Leitura da Paisagem - Parte Um

Poucas são as formações florestais brasileiras que têm sua fisionomia tão bem caracterizada pela presença de uma espécie vegetal como a Floresta Ombrófila Mista (segundo o sistema de classificação do IBGE) ou Floresta de Araucária.
A Floresta com Araucária é reconhecida como um conjunto vegetacional com fisionomia característica, recebendo denominações diversas, tais como floresta de pinheiros, pinhais, pinheirais, zona dos pinhais, mata de Araucária e floresta aciculifoliada subtropical, entre outras.
É característica do sul do Brasil se constituindo num ecossistema único no planeta pela presença predominante do pinheiro-do-paraná ou pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifolia), uma das espécies mais antigas da flora brasileira.
A araucária chega a viver até 700 anos, alcançando diâmetro de dois metros e altura de até 50 metros apresentando árvores de tronco reto onde as copas dão um destaque especial à paisagem.
No sub-bosque da floresta ocorre uma complexa e grande variedade de espécies, como a canela sassafrás, a imbuia, e o xaxim, espécies ameaçadas de extinção, algumas das quais endêmicas.